É preciso deixar sempre um pouco de desejo nas pontas dos dedos para tocar o corpo da mulher amada quando ela se foi mas ficaram o cheiro do seu suor nas dobras do lençol, seu sorriso que espia do espelho, a escova e o batom esquecidos (?) para nos lembrar.
É preciso deixar sempre um pouco de desejo nas pontas dos dedos para beliscar as cordas do violoncelo olvidado no canto da sala e arrancar seus gemidos plangentes e outonais que não eram ouvidos nunca mais.
É preciso deixar sempre um pouco de desejo nas pontas dos dedos para na ilha naufragada afagar a capa de couro do livro levado na algibeira, cheirá-lo, repassar suas folhas uma a uma e não ler a última jamais.
É preciso deixar sempre um pouco de desejo nas pontas dos dedos para alçar voo do chão cativo, palmilhar um pedacinho de inferno e um pedacinho de paraíso.
(Antonio Carlos A. Gama)
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